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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Mamografia questionada


Ao indicar a mamografia apenas para mulheres a partir dos 50 anos, na terça-feira, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos – uma comissão independente mantida pela Agência de Pesquisas da Saúde dos Estados Unidos – dividiu especialistas, inclusive no Brasil. O grupo concluiu que os benefícios com o exame eram menores do que o risco de um falso diagnóstico, levando a custos médicos elevados e ao desgaste emocional das pacientes.

No dia seguinte, a secretária de Saúde americana, Kathleen Sebelius, sepultou a polêmica. Em nota oficial, esclareceu que a comissão não estabelece as políticas federais de saúde, que seguem indicando o exame de rotina a partir dos 40 anos. O recuo ocorreu após as críticas de especialistas que temiam que a recomendação levasse a mais mortes por câncer. Encerrado o episódio por lá, médicos brasileiros acreditam que o momento é propício para mudanças sutis nos consultórios daqui.

As mamografias habituais para rastreamento de lesões continuarão sendo feitas a partir dos 40 anos pelo SUS, ou até mais cedo, em casos em que já existe suspeita decorrente, por exemplo, do autoexame. A lição que fica é a de que pacientes e médicos devem conversar mais sobre os procedimentos.

– A mulher precisa saber os riscos a que se expõe em um exame – afirma Felipe Zerwes, presidente da Sociedade de Mastologia do Rio Grande do Sul.

Conforme Zerwes, no caso da mamografia – menos precisa até os 50 anos porque as mamas são mais densas –, existe o risco de falsos-positivos, ou seja, quando o exame demonstra uma alteração que não evoluirá como câncer, mas que demanda uma investigação adicional com outros exames de imagem e até biópsias mamárias, com aumento de custo e forte impacto emocional.

A polêmica não afetou o status do exame entre os mastologistas. Para muitos mastologistas, a mamografia é um exame extremamente útil para rastreamento, quando não há um sintoma nem um tumor palpável.

– Ainda é o melhor exame disponível para o diagnóstico precoce do câncer de mama. Sua ausência seria um retrocesso no esforço de diagnosticar lesões iniciais, ainda não sintomáticas – ressalta o especialista.

Defensora do exame, a radiologista Radiá Pereira dos Santos, integrante da comissão de mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia, considera que o estudo que motivou a proposta de mudança nos Estados Unidos contraria quatro décadas de pesquisas.

– Um recente estudo sueco ressalta que o diagnóstico precoce aumenta em 50% as chances de cura. Nesse processo, a mamografia é importante, é eficaz e não é invasiva – completa.

Os testes disponíveis
AUTOEXAME

> É uma avaliação auxiliar que pode ser feita pela paciente, após a menstruação. Identifica nódulos a partir de um centímetro de diâmetro. Quando fazer: a partir dos 20 anos, mensalmente.
EXAME FÍSICO DAS MAMAS
> É feito nos consultórios por médicos. É capaz de detectar tumores com um ou mais centímetros de diâmetro. Quando fazer: a partir dos 30 anos, anualmente.
MAMOGRAFIA
> Detecta lesões milimétricas, mas é pouco eficaz para jovens, que têm mamas muito densas. Quando fazer: a Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a partir dos 40 anos, anualmente. O Instituto Nacional do Câncer recomenda a partir dos 50 anos, a cada dois anos. Na dúvida, discuta com seu médico.
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA E ECOGRAFIA
> Um auxílio à detecção precoce é fazer ecografia e ressonância magnética, que não são custeadas pelo SUS. Quando fazer: discuta com seu médico.
Fatores de risco
> Histórico familiar: mulheres com mãe ou irmã com câncer de mama apresentam duas a três vezes mais risco.
> Menstruação antes dos 12 anos e menopausa depois dos 55 anos: quanto mais cedo for a menstruação e mais tardia a menopausa, mais tempo de exposição ao estrogênio.
> Não ter filhos ou tê-los depois dos 30 anos: é durante a gravidez que o desenvolvimento da mama se completa. Quando a gravidez é tardia, a mama fica mais suscetível a sofrer alterações celulares.
> Terapia de reposição hormonal por mais de cinco anos: o uso prolongado de estrogênio estimula a proliferação das células mamárias e aumenta o risco.
> Pacientes com outras alterações de mama, com exames que revelaram presença de células atípicas: essas células podem predispor a formação do câncer.

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